domingo, 26 de julho de 2009

Zelaya acampa na fronteira de Honduras para pressionar governo interino

da BBC Brasil

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, se instalou no posto de Las Manos (fronteira com a Nicarágua) neste sábado (25) e afirmou que vai acampar lá para intensificar a pressão sobre o governo interino, que não permite a sua volta.

Através de um megafone, Zelaya anunciou aos seus simpatizantes que vai montar um acampamento em Las Manos e distribuirá comida a quem ficar por lá.

"Vamos esperar aqui os outros companheiros que vierem", disse Zelaya, dando a entender não tem planos de deixar o local.

Zelaya também agradeceu ao presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, pela recepção e repetiu que "Deus o acompanha na operação de volta", provocando entre os seus simpatizantes gritos de "Zelaya, aguente, que o povo se levanta".

Na sexta-feira (24), em um ato simbólico, Zelaya e simpatizantes pisaram brevemente em solo hondurenho, mas deixaram o país minutos mais tarde, ao serem confrontados por soldados, provocando críticas nos Estados Unidos e levando o governo interino a ampliar o toque de recolher na região.

Zelaya não foi detido como havia ameaçado o governo militar interino. Mas o gesto foi considerado "temerário" pela secretária americana de Estado, Hillary Clinton.

O correspondente da BBC Stephen Gibbs, que testemunhou o episódio na sexta-feira, disse que os militares, aparentemente indecisos sobre como reagir, recuaram 20 metros à medida que Zelaya cruzava a linha que marca a divisa entre os dois países.

"Bem-vindo a Honduras"

O evento durou menos de 30 minutos. Zelaya posou ao lado de um sinal onde se lia "Bem-vindo a Honduras" e voltou para a Nicarágua.

"Não tenho medo, mas também não sou maluco", disse o presidente deposto ao canal de TV estatal venezuelano Telesur. "Poderia haver violência e eu não quero ser a causa."

Zelaya, que foi deposto no dia 28 de junho, já havia tentado voltar ao país no dia 5 de julho, mas o avião que o trazia foi impedido pelos militares de pousar no aeroporto da capital hondurenha, Tegucigalpa.

O gesto levou o governo interino de Honduras a reagir, diminuindo a importância do gesto de Zelaya mas ampliando, ao mesmo tempo, o toque de recolher na fronteira.

Os moradores das regiões fronteiriças devem agora permanecer em casa entre o meio-dia e as seis da manhã, horários locais, para "manter a calma" nas ruas.

Entretanto, durante o ato de Zelaya, milhares de simpatizantes do presidente deposto ignoraram o cessar-fogo e se reuniram perto da fronteira, levando a polícia a usar gás lacrimogêneo.

Na mesma hora, simpatizantes do governo interino se reuniam na cidade de San Pedro Sula, no norte do país, exibindo cartazes com os dizeres: "Zelaya pode voltar, mas para a cadeia".

O vice-ministro de Segurança interino, Mario Perdomo, procurou diminuir a importância do gesto de Zelaya.

"Show"

"Ele fez um show: colocou um pé em Honduras e saiu", disse. "E foi em uma zona morta da fronteira, o que nós toleramos."

Nos Estados Unidos, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, classificou o ato de Zelaya como imprudente.

"O esforço do presidente Zelaya para chegar à fronteira é temerário", disse ela. "Não contribui para o esforço mais amplo de restaurar a democracia e a ordem constitucional na crise hondurenha."

Negociações para pôr fim à crise terminaram há duas semanas sem resultado na Costa Rica. A mediação da crise está a cargo do presidente costarriquenho, Oscar Arias.

Zelaya voltou a enfatizar que está disposto a voltar ao diálogo.

Na sexta-feira, o presidente interino hondurenho, Roberto Micheletti, convidou outros países para participar das conversas.

"Queremos convidar os governos de Alemanha, Bélgica, Canadá, Colômbia, Panamá e Japão para que se juntem como observadores do diálogo que acontece na Costa Rica", disse, em pronunciamento lido à imprensa no Palácio Presidencial.

A crise política eclodiu depois que Zelaya tentou fazer uma consulta pública para perguntar se os hondurenhos apoiavam suas medidas para mudar a Constituição.

A oposição era contra a proposta dele de acabar com o atual limite de apenas um mandato por presidente, o que poderia abrir caminho para a reeleição.

sábado, 25 de julho de 2009

Zelaya insiste e busca rotas para regressar a Honduras

IVÁN CASTRO
da Reuters, em Ocotal (Nicarágua)

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, procura neste sábado na Nicarágua rotas para entrar em seu país com o objetivo de retomar o poder, enquanto o governo alerta que se ele voltar à nação será detido imediatamente.

Zelaya, destituído em golpe de militares ocorrido em 28 de junho, desafiou na sexta-feira (24) o governo do presidente interino, Roberto Micheletti, ao cruzar a fronteira militarizada em Las Manos, voltando em seguida à Nicarágua.

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Com um chapéu de vaqueiro, Zelaya chegou em um jipe branco à fronteira como parte de sua campanha para voltar ao poder, algo que poderia desatar uma nova onda de violência em um dos países mais pobres da América Latina.

"Podemos entrar pela fronteira que temos com El Salvador ou pela Guatemala. Em todos os lados estamos organizados", disse Zelaya. "Ou podemos aterrissar diretamente em San Pedro Sula. Tenho helicópteros prontos, tenho aviões prontos, tenho o povo que me acompanha", acrescentou.

Zelaya e um grupo de simpatizantes caminharam alguns metros para dentro do território hondurenho, até um cartaz que dizia "Bem-vindos a Honduras", onde ele pediu para falar com altos comandos militares para tentar ingressar em definitivo ao país. Soldados equipados com escudos e capacetes formaram um cordão para impedir sua passagem.

"O ato do senhor Zelaya foi irresponsável, não meditado e de muito pouca seriedade", afirmou Micheletti na sexta-feira à noite.

Em El Paraíso, cerca de 15 quilômetros dentro do território hondurenho, centenas de simpatizantes de Zelaya enfrentaram militares e policiais, que lançaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los. Uma testemunha da agência de notícias Reuters viu um policial ferido na cabeça por uma pedrada e escutou disparos.

Ordem de captura

Zelaya, um empresário liberal que na metade do seu mandato virou-se para a esquerda e se aliou ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, irritando empresários e seu próprio partido, foi expulso até a Costa Rica por um grupo de militares.

A Justiça hondurenha o acusa de violar a Constituição, pois ele buscava um referendo para ampliar o mandato presidencial.

"Há essa ordem de captura. Não uma, mas várias ordens de captura contra ele e vários de seus funcionários", afirmou Micheletti à rede de televisão CNN em espanhol.

Muitos em Honduras temem que sua volta cause uma onda de violência. Um jovem morreu no último dia 5 quando soldados abriram fogo contra os manifestantes que esperavam Zelaya no aeroporto de Tegucigalpa em sua primeira tentativa de voltar ao país.

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse a jornalistas na sexta-feira: "Temos exortado sistematicamente a todas as partes a evitarem qualquer ação provocativa que possa incitar a violência. O esforço do presidente Zelaya para chegar à fronteira é temerário".

Zelaya partiu para a fronteira depois de dar por esgotadas as conversas de ambas as partes na Costa Rica e ver a resistência dos EUA, que apoiam sua restituição, mas apostam em uma solução negociada.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

EUA pedem que OEA apoie gestão da Costa Rica para Honduras




Em Washington
O Governo do presidente americano, Barack Obama, pediu que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e seus membros apoiem a gestão do líder da Costa Rica, Oscar Arias, para uma solução à crise constitucional em Honduras.

"Elogiamos o presidente Arias por seu esforço para facilitar o restabelecimento pacífico e negociado da ordem democrática e constitucional em Honduras", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Robert Wood, em comunicado distribuído pouco antes da meia-noite.


Segundo o funcionário americano, "as conversas deste fim de semana causaram progresso significativo e criaram os alicerces para uma possível resolução em adesão aos princípios da Carta Democrática Interamericana".

O Governo hondurenho liderado por Roberto Micheletti rejeitou as propostas de Arias para solucionar o conflito que levou, no mês passado, à deposição e exílio do presidente Manuel Zelaya.

O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, expressou seu respaldo a um prazo de 72 horas, com a esperança de que Arias "faça reconsiderar os que rejeitaram a proposta" do líder.

Insulza também anunciou que o Conselho Permanente da OEA se reunirá hoje para avaliar o processo de mediação.

Zelaya aceitou o plano de Arias, que prevê o adiantamento das eleições para outubro e a formação de um Governo de união nacional até 2010, quando terminaria o mandato de Zelaya.

Wood pediu que "as partes nas conversas reflitam sobre os progressos já conseguidos e se comprometam com uma conclusão bem-sucedida".

"Nesta conjuntura importante, pedimos à OEA, a seus Estados-membros e a outras partes interessadas que reafirmem seu apoio às conversas facilitadas pelo presidente Arias", disse Wood, "e que mostrem seu compromisso com a resolução pacífica das disputas políticas mediante o diálogo".
UOL Celular

terça-feira, 14 de julho de 2009

Grupo do Rio estuda convocar reunião sobre crise em Honduras

FLÁVIA MARREIRO
da Folha de S. Paulo

O Grupo do Rio estuda convocar nova reunião para discutir a crise hondurenha. A Chancelaria do México, que exerce a presidência rotativa do mecanismo diplomático regional, consulta os países-membros sobre o encontro, segundo a apurou a reportagem.

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O Grupo do Rio, que tem 23 países --inclui Cuba, mas não EUA e Canadá--, reuniu-se na Nicarágua, um dia após a deposição do hondurenho Manuel Zelaya, e condenou o golpe.

Questionado sobre o tema, o Itamaraty disse que "o Brasil não se opõe à sua realização".

A nova reunião seria mais uma demonstração de pressão política sobre o governo que assumiu após o golpe. Há um temor de que o plano do interino Roberto Micheletti seja alongar a negociação com Zelaya, mediada pelo presidente costa-riquenho, Óscar Arias, e patrocinada pelos EUA.

A ideia seria enfraquecer pelo cansaço tanto o deposto como a atenção internacional até as eleições gerais de novembro.

O Brasil já disse que eleições organizadas pelo governo interino não serão suficientes para normalizar a situação do país.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) já esgotou as medidas de coerção previstas em seus estatutos. A entidade suspendeu Honduras por consenso de seus 34 países.

A pedido do Brasil, a OEA também exortou seus integrantes a revisarem as relações diplomáticas com Honduras.

Vários países retiraram embaixadores, mas não os EUA, que defendem que é mais produtivo manter um interlocutor de peso em solo hondurenho. Quanto à cooperação, Washington congelou a cooperação militar e parte da ajuda, mas ainda há um montante de US$ 180 milhões sob revisão.

OEA e Insulza

No momento em que o foco da questão hondurenha se desloca para o papel de Washington, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, viu-se obrigado ontem a defender suas gestões na crise, que teriam sido criticadas pelo Departamento de Estado.

Segundo o jornal chileno "El Mercurio", Washington avisou a Santiago que não apoiará a reeleição de Insulza para o cargo, em 2010. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, negou. O chefe da diplomacia americana para a região e futuro embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, afirmou que "os EUA não expressaram sua opinião" ainda.

O motivo da irritação americana seria o excessivo alinhamento do chileno com o bloco chavista tanto agora como na revogação da suspensão de Cuba da OEA no mês passado.

O Brasil apoia a reeleição do chileno. Insulza foi eleito em 2005, após os EUA retirarem seu candidato, que, pela primeira vez na história, seria derrotado na entidade

terça-feira, 7 de julho de 2009

OEA repete com Honduras mesmo isolamento que usou contra Cuba em 1962

El País
Yolanda Monge
Em Washington (EUA)


A Organização de Estados Americanos (OEA) suspendeu na madrugada de domingo Honduras devido ao golpe de Estado que depôs o presidente Manuel Zelaya e a negativa do governo interino de restituí-lo ao cargo. Com a medida, a OEA pretende isolar o empobrecido país da América Central, cuja frágil economia depende em grande parte da ajuda externa.

Tensão em Honduras

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O chanceler hondurenho, Enrique Ortez, disse nesta segunda-feira que ao menos duas pessoas morreram por causa dos incidentes registrados nas manifestações a favor do deposto presidente, Manuel Zelaya. "Podemos confirmar que houve dois mortos", disse o ministro hondurenho do novo Governo, em uma entrevista à emissora colombiana "Caracol Radio". Ele afirmou também que existe a "certeza" de que a Polícia não é responsável pelas mortes
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O presidente destituído de Honduras, Manuel Zelaya, foi impedido de retornar a Tegucigalpa no domingo, mas a imagem das novas autoridades hondurenhas ficou ainda mais arranhada aos olhos da comunidade internacional com a morte de dois manifestantes em um protesto.

A suspensão foi decidida em sessão extraordinária da Assembleia Geral - sediada em Washington - por 33 votos a favor e uma abstenção, a de Honduras (ao todo, 34 países formam a associação panamericana). A assembleia agiu seguindo o artigo 21 da Carta Interamericana Democrática, que dá aos países membros o direito de suspender como membro um país em caso de "uma interrupção inconstitucional da ordem democrática" e "quando falharem os esforços diplomáticos para tentar resolver a situação".

A primeira e única vez que um país foi expulso do organismo (criado em 1948) foi em 1962, embora por causas bem diferentes. Cuba ficou então fora da OEA por causa de seu regime comunista e o alinhamento com o então bloco soviético.

Com a decisão tomada pela Assembleia Geral extraordinária em Washington, Honduras é protagonista do segundo caso em que o organismo continental defende a restituição de um presidente constitucional, depois das medidas políticas econômicas de pressão - sem chegar à suspensão - que realizou para devolver ao mandatário Jean-Bertrand Aristide à presidência do Haiti em 1991 depois do golpe de Raoul Cedras.

Em uma reunião com caráter de urgência, o secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, recomendou a medida, já que disse que não existia "outra alternativa" senão expulsar o país centro-americano diante de sua negativa a reinstaurar Zelaya no poder. Insulza esteve em Honduras na sexta-feira passada, onde tentou em vão convencer o governo interino de Roberto Micheletti a devolver a Zelaya seu mandato democrático depois de tê-lo arrebatado há uma semana, quando foi expulso do país a ponta de pistola e enviado para a Costa Rica.

Da assembleia de Washington participaram, além de Zelaya, a presidente da Argentina, Cristina Fernández, e o do Uruguai, Fernando Lugo. Zelaya anunciou que na viagem de retorno prevista para seu país seria acompanhado de Fernández e do presidente do Equador, Rafael Correa. Mas Insulza quis advertir ontem sobre possíveis confrontos em Honduras diante do eventual retorno do presidente deposto. Os governos do Canadá e da Costa Rica também foram contra a ideia, já que não há garantias sobre sua segurança pessoal.

Durante sua vez de se pronunciar, Zelaya afirmou que voltaria a seu país "porque é necessário que se restaure a paz". "A viagem é um fato", declarou Carlos Sosa, que se autoproclamou "ex-embaixador" de Honduras na OEA devido à suspensão atual do país. Diante da pergunta de se a viagem seria feita em avião comercial ou particular, Sosa respondeu: "Necessariamente tem de ser privado".

Zelaya disse que "com esta sanção o governo de fato de Honduras está totalmente isolado do resto do mundo". "Aplaudo esta resolução porque está pondo à prova com este golpe a democracia em Honduras", prosseguiu o presidente defenestrado. "Estamos provando que temos uma forma operacional de funcionar e de declarar as condições para que o mundo continue funcionando", finalizou. Insulza não quis confirmar ontem se viajaria com Zelaya.

A suspensão deixa Honduras temporariamente à margem de qualquer participação na OEA, mas o país deve continuar observando suas normas - por exemplo, as relativas a direitos humanos. Os chanceleres reunidos em Washington concordaram em "exortar" as organizações internacionais para que "revisem suas relações com a República de Honduras durante o período de gestões diplomáticas para a restauração da democracia e do estado de direito" e o retorno de Zelaya ao poder.

A sanção do principal órgão diplomático da região influirá na concessão de créditos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que já congelaram seus empréstimos para Honduras, vitais para o pobre país produtor de café e bananas. A essa paralisação dos créditos somou-se no domingo o anúncio do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aliado de Zelaya, de não mais exportar petróleo para o país, o que poderia representar um duro revés para a frágil economia hondurenha.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
UOL Celular