Zelaya acampa na fronteira de Honduras para pressionar governo interino
da BBC Brasil
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, se instalou no posto de Las Manos (fronteira com a Nicarágua) neste sábado (25) e afirmou que vai acampar lá para intensificar a pressão sobre o governo interino, que não permite a sua volta.
Através de um megafone, Zelaya anunciou aos seus simpatizantes que vai montar um acampamento em Las Manos e distribuirá comida a quem ficar por lá.
"Vamos esperar aqui os outros companheiros que vierem", disse Zelaya, dando a entender não tem planos de deixar o local.
Zelaya também agradeceu ao presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, pela recepção e repetiu que "Deus o acompanha na operação de volta", provocando entre os seus simpatizantes gritos de "Zelaya, aguente, que o povo se levanta".
Na sexta-feira (24), em um ato simbólico, Zelaya e simpatizantes pisaram brevemente em solo hondurenho, mas deixaram o país minutos mais tarde, ao serem confrontados por soldados, provocando críticas nos Estados Unidos e levando o governo interino a ampliar o toque de recolher na região.
Zelaya não foi detido como havia ameaçado o governo militar interino. Mas o gesto foi considerado "temerário" pela secretária americana de Estado, Hillary Clinton.
O correspondente da BBC Stephen Gibbs, que testemunhou o episódio na sexta-feira, disse que os militares, aparentemente indecisos sobre como reagir, recuaram 20 metros à medida que Zelaya cruzava a linha que marca a divisa entre os dois países.
"Bem-vindo a Honduras"
O evento durou menos de 30 minutos. Zelaya posou ao lado de um sinal onde se lia "Bem-vindo a Honduras" e voltou para a Nicarágua.
"Não tenho medo, mas também não sou maluco", disse o presidente deposto ao canal de TV estatal venezuelano Telesur. "Poderia haver violência e eu não quero ser a causa."
Zelaya, que foi deposto no dia 28 de junho, já havia tentado voltar ao país no dia 5 de julho, mas o avião que o trazia foi impedido pelos militares de pousar no aeroporto da capital hondurenha, Tegucigalpa.
O gesto levou o governo interino de Honduras a reagir, diminuindo a importância do gesto de Zelaya mas ampliando, ao mesmo tempo, o toque de recolher na fronteira.
Os moradores das regiões fronteiriças devem agora permanecer em casa entre o meio-dia e as seis da manhã, horários locais, para "manter a calma" nas ruas.
Entretanto, durante o ato de Zelaya, milhares de simpatizantes do presidente deposto ignoraram o cessar-fogo e se reuniram perto da fronteira, levando a polícia a usar gás lacrimogêneo.
Na mesma hora, simpatizantes do governo interino se reuniam na cidade de San Pedro Sula, no norte do país, exibindo cartazes com os dizeres: "Zelaya pode voltar, mas para a cadeia".
O vice-ministro de Segurança interino, Mario Perdomo, procurou diminuir a importância do gesto de Zelaya.
"Show"
"Ele fez um show: colocou um pé em Honduras e saiu", disse. "E foi em uma zona morta da fronteira, o que nós toleramos."
Nos Estados Unidos, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, classificou o ato de Zelaya como imprudente.
"O esforço do presidente Zelaya para chegar à fronteira é temerário", disse ela. "Não contribui para o esforço mais amplo de restaurar a democracia e a ordem constitucional na crise hondurenha."
Negociações para pôr fim à crise terminaram há duas semanas sem resultado na Costa Rica. A mediação da crise está a cargo do presidente costarriquenho, Oscar Arias.
Zelaya voltou a enfatizar que está disposto a voltar ao diálogo.
Na sexta-feira, o presidente interino hondurenho, Roberto Micheletti, convidou outros países para participar das conversas.
"Queremos convidar os governos de Alemanha, Bélgica, Canadá, Colômbia, Panamá e Japão para que se juntem como observadores do diálogo que acontece na Costa Rica", disse, em pronunciamento lido à imprensa no Palácio Presidencial.
A crise política eclodiu depois que Zelaya tentou fazer uma consulta pública para perguntar se os hondurenhos apoiavam suas medidas para mudar a Constituição.
A oposição era contra a proposta dele de acabar com o atual limite de apenas um mandato por presidente, o que poderia abrir caminho para a reeleição.